#SUTRA The past can't hurt you anymore. Not unless you let it. They made you into a victim. They made you into a statistic. But, that's not the real you. That's not who you are inside.

GUIDELINES

  001.    Eu tenho o desenvolvimento da Sunmi já bem estruturado na minha cabeça com acontecimentos futuros que inicialmente vão impactar de forma negativa nos relacionamentos dela então se você não tiver problema com isso: Vem ai! E também estou hiper aberta para plotar junto algo que eu não tenha listado aqui no carrd ou que o seu char precise.  002.    A Sunmi é uma personagem caótica, mas não estou restrita a apenas jogar plots caóticos.  003.   Tenho trigger com estup. e ped. então se o seu char tiver alguma dessas coisas no plot peço por favor que me notifique antes de enviá-lo, ou se for algo explícito, descrição de alguma das coisas, por favor me mande apenas um resumo sem essas questões. Caso em IC esse assunto seja abordado em alguma conversa, por favor, me avise antes também (ou de preferência, se não for algo necessário para o desenvolvimento do game, não trate desses dois assuntos com minha char).  004.    Eu curto muiiiito jogar prompt, então se também for do seu interesse já chegar jogando algo, conte comigo.  005.    Eu sou um pouco chata com connections, se vejo que não está desenvolvendo e foi jogada de lado, vou logo perguntar se você gostaria de desfazer. É claro, você tem total liberdade de desfazer alguma connection com a Sunmi.  006.    Não jogo e nem trato sobre tópicos +18 com players menores de idade, mas não tenho problemas em jogar coisas fora dessas temáticas restritas.  007.    Se por ventura minha char lhe ofender de alguma forma, me chama na dm para que possamos resolver de forma clara.  008.   Ela/dela, +19.

  DRAMA, VIOLENCIA & ROMANCE   Como eu disse, a Sunmi é uma personagem caótica, então é claro que eu gosto de um drama&caos, não me importo de que aconteça naturalmente desde que seu personagem não use de metagaming para que algo nesse sentido ocorra.Não tenho problema com violência (tirando as dos meus gatilhos), porém se for do tipo físico e embate, prefiro usar de NPCs.Particularmente prefiro que romances aconteçam naturalmente, mas não tenho problema de combinar um ponto de partida e ver o que se desenvolve daí.Acho amores platônicos extremamente interessantes, seja partindo do meu char, ou do seu e se for importante para você, expectativas podem E DEVEM ser alinhadas.Gosto muito de angst em relacionamentos, e também entendo, e espero que entendam que caso não seja acordado, o casal não é endgame.

THEME CREDITS

  homemade dynamite   
muse e sunmi parecem ser destinados a atraírem confusão, são raras as vezes que se unem para fazer algo que não seja uma potencial besteira gigantesca.
  pacify her   
o lado amável e doce da garota é visto poucas vezes, embora o rosto dê a entender que ela é uma fofa, sunmi é o oposto mas yohan sempre traz esse seu lado a tona, sem precisar fazer esforço algum.

  homecoming   
quando muse reconheceu sunmi em uma festa, a garota, ficou sem reação. não esperava reencontrar seu namoradinho de infância tantos anos depois.
Também procuro por colegas de trabalho da época que a Sunmi costumava trabalhar em baladas, fosse como dj, dançarina ou bartender, ex-namorados, vizinhos e alguém que ela conheça de Busan.

*

Thick skin layеr like chains on chains on chains

  TW: Violência doméstica, física e psicológica,  Não se lembra muito bem de sua infância antes dos 4 anos, sempre soube que não era um mar de rosas, afinal se fosse, sua mãe não teria a abandonado com seu pai, teria? A mulher não teria deixado aquele vazio enorme anos atrás, que foi preenchido pelo ressentimento e mágoa de seu pai. Sunmi era um lembrete constante da mulher que o havia deixado, e ele frequentemente culpava a filha pela situação, despejando nela sua raiva e frustrações. Apesar disso, ele mantinha controle sobre Sunmi, proibindo-a de frequentar a boate a qual ele era dono, como se aquele ambiente fosse inapropriado para ela, mesmo que sua casa não fosse menos caótica e a proibindo de sair da vista dele.Entre as paredes da boate de que ele comandava, Sunmi encontrou algo inesperado; Enquanto o pai tentava mantê-la afastada daquele mundo, seus pés a levavam até lá, como se fosse atraída por uma força invisível. Escondida na coxia do palco, ela observava o DJ, fascínio pintado no seu rosto jovem, os olhos brilhando ao ver como as pessoas dançavam de acordo com o que o homem atrás das pick-ups colocava para ecoar nos alto-falantes.Mas dentro de casa, o som era outro. Eram gritos, eram golpes – tanto físicos quanto emocionais. O peso de viver sob o mesmo teto que aquele homem parecia insuportável, e Sunmi começou a sonhar com uma fuga. Trabalhou sem descanso, juntando centavo por centavo, alimentando em silêncio a esperança de um dia se libertar mas é claro que justamente quando acreditava ter o suficiente para pelo menos se mudar para outra cidade qualquer, seu pai encontrou suas economias e não apenas as tomou, mas deixou claro que na próxima vez faria o que fosse preciso para garantir que ela ficasse onde estava.Foi naquela mesma semana, com o corpo ainda dolorido e o coração em pedaços, que Sunmi tomou sua decisão. Não era apenas sobre fugir, mas sobre sobreviver, e a ameaça que recebeu só funcionou para mostrar que ela não tinha o que perder. Assim que conseguiu uma janela de tempo, ela revirou gavetas e cofres, pegando o que precisava para traçar um novo caminho e quando desceu do trem, finalmente chegando em Seoul, pode voltar a respirar – ou talvez estivesse respirando pela primeira vez.Na capital, a cidade pulsava com energia, e Sunmi encontrou um ritmo que finalmente combinava com o dela. A quantia que conseguiu era grande, mas a primeira coisa que fez depois de encontrar onde morar, foi procurar um trabalho e não foi difícil; tinha aprendido muito com os funcionários da boate que tinham carinho por si e toda vez que ela mostrava interesse fosse por fazer drinks, poledance e claro, djing, eles se garantiam de que o Sr Cho não estava por perto para ensinarem o que podiam.Finalmente ela começou a reconstruir o que havia sido destruído e comprar seu próprio equipamento para seguir o que sonhava como carreira; sob o nome de Sutra, Sunmi é uma DJ em ascensão na cena eletrônica underground de Seoul.


  SHE MOVES IN HER ON WAY Cho Sunmi, aka Sutra.
11 de novembro de 1999.
Loft misto, Hongdae.
DJ.
Não é a pessoa mais fácil de se lidar; Sunmi tem o pavio curto e sabe ser agressiva e maldosa quando quer, sem contar a pia transbordante de sentimentos que carrega dentro de si. Tem uma lista extensa de defeitos, mas suas qualidades também são válidas de menção: é extremamente leal, não teria medo nem de passar por cima da lei para proteger um dos seus e tem um carisma encantador quando quer. É obstinada, tem dificuldade em obedecer figuras de ordem porque a lembram demais seu pai, mas normalmente sua criatividade e simpatia consegue a fazer sair de enrascadas.Não é muito boa em se expressar por palavras, pra isso usa a arte, as diversas formas que a encantam para passar o que está sentindo.É esperado que Sunmi seja uma pessoa solitária, mas na verdade a garota odeia ficar sozinha. Odeia quando uma festa acaba, quando sai com um amigo e precisam se despedir e inclusive a escolha de morar em bitna muito se deu por esse motivo.Além disso, Sunmi é simpática, animada, ama uma boa festa e um drink colorido.

‧₊˚ ✩°。⋆♡ 4PEACEMINUSONE ⋆。°✩˚₊‧

O1. ˚₊‧꒰ა❤︎໒꒱ ‧₊
O2.˖⁺‧₊˚♡˚₊‧⁺˖
O3. ๑*˚✩˚₊✿。.℘

OUT OF CHARACTER:Queria deixar algumas considerações aqui! A Sutra toca, majoritariamente, techno e tribal, mas ela não se limita apenas a isso pois como Beyoncé disse: "gênero" é apenas uma palavra legal para limitar artistas. Mas por ser techno, não esperem que músicas toquem igual a uma playlist do spotify, ou que apenas role uma transição legal entre uma e outra. Entendo que não é o cup of tea de muita gente, mas deem uma chance e ouçam pelo menos o primeiro set, ou parte dele, para saber mais ou menos a vibe, eu imploro.Os dois primeiros links que coloquei são os sets que ela tocou, o terceira é uma faixa só. Todas as artistas são DJs e produtoras brasileiras da cena techno que por vezes usam músicas nacionais, então pode ser que role alguma palavra ou outra em português no meio dos sets, favor desconsiderar.A Sutra tocou das 10PM até 3AM.PS: Essas três artistas são A PUTA QUE PARIU, se você curte esse tipo de som faça o favor de apoiar seguindo no soundcloud.

transitions by fabrizio paterlini

070325 + 4:17AMA estrada até Gangneung parecia infinita na madrugada. O painel do carro brilhava suavemente, os números do relógio marcando 4h17 e a música que ecoava do rádio, destoando do set que ela tinha tocado algumas horas atrás, era calma. Não poderia dizer que tinha agido por impulso, porque horas antes de sair de casa, já tinha cogitado para onde ir depois do seu último trabalho.Claro, já havia sido residente em outros lugares mas nada se comparava a Faust. Foi lá onde encontrou seu maior público, onde construiu seu nome, onde se perdeu e se encontrou inúmeras vezes, onde sentiu que, talvez, pudesse pertencer a algum lugar. Mais do que um trabalho, foi casa. E agora, ao deixá-la para trás, sentia que estava abandonando não apenas um espaço, mas uma parte de si mesma. Não era como se nunca mais fosse tocar lá, mas seria diferente não ter certeza de onde estaria na quinta e na sexta-feira, do que iria encontrar. O dono do clube, Kang Yongguk, – com seus 42 anos e uma energia de um jovem de 20, e uma sabedoria de um senhor de 84 – não se cansou de a cobrir de conselhos, de dizer que ela deveria estar melhor preparada para aquele momento porque sabia que ele aconteceria afinal era exatamente o que ela queria, e que aconteceria de novo e de novo, e que pelo o que observou da agenda dela as coisas dali para frente demorariam a serem fixas por um longo período de tempo. E Sunmi deveria ser grata – o que ela era, só vinha encontrando dificuldades em processar as coisas.Deveria estar eufórica. Deveria estar apenas animada com os novos projetos, com os palcos maiores, com a promessa de um futuro ainda mais brilhante. Mas algo dentro dela parecia emperrado, um peso sem nome, uma sombra de algo que ela não conseguia decifrar. Talvez fosse o medo da mudança. Não a mudança em si, mas a possibilidade de que, mesmo com tudo diferente, ela continuasse igual, que não existisse glamour ou felicidade alguma nessa carreira que escolheu seguir. Sabia que sua ganancia a faria subir o mais alto que pudesse, e tinha que começar a se preparar para a possibilidade de queda.O vento carregava o cheiro de sal, cortante, fazendo-a encolher levemente os ombros ao sair do carro. Um cheiro que a fez parar por um segundo, e inspirar fundo porque fazia anos que não vinha à praia. Fugia de tudo que remetesse a Busan, ao menos nos primeiros anos, depois aceitou que sua língua não iria cair, e seu pai não apareceria ali, caso mencionasse a cidade que foi cenário de quase toda sua vida.A areia estava dura sob a sola do tênis, congelada pela madrugada mas ainda assim sentou-se ali, perto do limite onde a água lambia a terra e recuava, e respirou fundo.Estava aterrorizada.Mas ia passar, sempre passava. Só tinha um único medo recorrente e apenas porque não tinha como dar fim nele, mas acreditava que a notícia de que finalmente seu pai estaria morto, chegaria.Do bolso direito retirou o celular, para gravar o som das ondas se quebrando com uma força absurda junto do vento, enquanto do esquerdo tirou o maço de cigarro e o isqueiro que reluziu quando a chama acendeu, tremeluzindo ao vento antes de proteger a brasa com as mãos e puxar a primeira tragada. O vício em nicotina vinha aumentando e era um sinal de que algo não estava certo. Mas deveria estar, não deveria? Mais do que nunca, tudo deveria parecer certo.No segundo cigarro Sunmi decidiu que quando entrasse no carro não iria mais sofrer por antecipação, não era de seu feitio, não gostava de acariciar as próprias feridas e não gostava de pensar demais sobre coisas que para seu completo desgosto estavam fora do seu controle.O ciclo havia se fechado.

Top down, starin' at the stars

090325 + 2:47AMSunmi poderia muito facilmente se acostumar com aquele estilo de vida nos locais de Gangnam que vinha tocando. Claro, desconfiava que para além do seu talento, o pretty privilege vinha falando mais alto do que nunca e até se incomodaria, mas deixaria para dar mais atenção ao problema de sua aparência ser mais importante do que seu talento no momento certo.Tinha conhecido Soichiro na exposição, o rapaz se aproximou do booth com uma empolgação clara e quando percebeu já havia o chamado para entrar e ficar ali. Genuinamente interessado em entender como as coisas funcionavam, quais botões Sunmi apertava para criar, mesclarar e transformar todos os sons e batidas que ecoavam pelo espaço. Ele não perguntava nada, mas ela via como os olhos dele corriam e tentavam acompanhar a rapidez com que os dedos dela apertavam as teclas da controladora e corriam na CDJ. No fim da noite eles trocaram telefones, e no dia seguinte ele estava a contratando para tocar na sua festa de aniversário, no primeiro sábado de março.Deveria ter desconfiado pela forma que ele sequer tentou negociar o valor colocado, e se dispôs a pagar por tudo mais que ela precisasse. Haviam trocado algumas mensagens, fosse sobre o evento ou um pouco sobre si mesmos; sabia que ele tinha nascido no Japão mas sua mãe era coreana, então desde pequeno ele vinha muito para o país e agora assumia alguns negócios ali. Não sabia se era keiretsu level, mas sabia que com certeza era de alguma influência dado o tamanho da festa e os rostos conhecidos que encontrou por ali – conhecidos porque havia visto aquelas pessoas na internet, na televisão ou em editoriais de revista. E não tinha como não se sentir bem consigo mesma quando pessoas influentes elogiavam seu trabalho ou pareciam se divertir pra caralho ao som da sua batida.Quando seu set acabou e outro DJ assumiu o booth, tudo começou a acontecer rápido demais: as apresentações, as taças de champanhe indo e vindo, os shots colocados na sua frente, os cartões de trabalho colocados na sua mão, e as perguntas sobre agenda livre. Se algum dia teve dúvida da influência de Jinyoung, naquela noite ficava impossível, porque toda vez que Soichiro a apresentava e incluía “ela quem tocou na exposição do Kwang Jinyoung”, as pessoas pareciam mais interessadas, quase como se ela tivesse sido previamente aceita naquele círculo.Aos poucos começava a se sentir sobrecarregada e precisou pedir licença para ir até o banheiro, mas na verdade foi para o mais longe possível de onde tudo estava acontecendo, quase saindo da propriedade. A mudança de temperatura era clara, principalmente levando em consideração a roupa que usava; acendeu o cigarro tanto para apaziguar o frio quanto a empolgação que se misturava com ansiedade. A porcaria do isqueiro não queria funcionar e como em um clichê, uma chama foi colocada próximo de seu rosto e acendeu o cigarro antes de olhar para o rosto, sendo positivamente surpreendida quando encontrou uma mulher.“Você precisa de um zippo, querida.” – A voz suave combinava perfeitamente com a mulher, extremamente bem vestida e alinhada. Sunmi sorriu pequeno e agradeceu, porque tinha fugido para lá a fim de evitar conversas mas o outro lado não parecia pensar o mesmo. “Eu sou a mãe do Soichiro, muito prazer. Ele parecia extremamente empolgado com sua presença hoje, deve ter desenvolvido algum tipo de paixonite ou coisa do tipo.” – O tom era casual, como se não tivesse falado nada demais enquanto também acendia um cigarro. A fumaça foi lançada para cima e depois os olhos escuros dela caíram sob si, e se Sunmi não fosse Sunmi, teria encolhido porque por mais que a conversa fosse leve, o olhar julgava mesmo que um pouco, como se fosse transparente e a mulher pudesse a ler com imensa facilidade.— Ahm, não acho que seja o caso… Ele definitivamente parece mais interessado na música, ou não sei… No status? Honestamente estava começando a me sentir como um acessório. – Confessou, sem se importar se a mulher diria ou não para o filho, mas ela só fez rir e balançar a cabeça de forma positiva. “Ah sim, é um sentimento natural quando se é inserida nesse ambiente pela primeira vez.” – Simples assim, ela deixou claro que por mais que Sunmi estivesse se portando como a pessoa mais confiante do mundo, era óbvio que não pertencia àquele lugar. Por hora. Porque pretendia fazer parte de todos os espaços que passasse.“Meu filho é muito generoso… Sutra, certo? E ele parece ter gostado muito de você, pelo motivo que for, então use isso com sabedoria. Queria que uma pessoa assim tivesse aparecido para mim na sua idade, as coisas teriam sido mais fáceis.” – Os olhos felinos se tornaram ariscos, capturando cada movimento da mulher, que parecia proteger o filho como uma leoa. — Eu não tenho interesse nenhum em contar vantagem da suposta generosidade do seu filho. E você sequer me conhece para assumir algo assim. – A educação de Sunmi ia até onde a do outro lado terminava, independente de idade, classe social ou a merda que fosse. Não engolia nenhum tipo de besteira ou idiotice que lhe fosse dito.Surpreendentemente, a resposta fez a mulher relaxar um pouco a expressão e postura, afinal as duas estavam com a guarda alta, mas ela pareceu se arrepender um pouco da forma que falou já que em seguida estava se explicando. “Não estou assumindo nada, só sou um pouco super protetora, não quis te ofender.” – Não teve como não controlar um risinho ao soltar a fumaça, porque ela parecia ter unicamente a intenção de ofender ou assustar. “Eu não entendo muito de música, mas você parece ser muito boa no que faz, pelo menos pelo termômetro de como as pessoas estavam se divertindo e querendo conversar contigo assim que você terminou.” – Ela não estava nenhum pouco preocupada em ser inconspícua, deixando claro que observou Sunmi por um período considerável de tempo. O que para uma pessoa reservada como ela, era um problema, mas não demonstrou seu desconforto, apenas agradeceu. — Eu não perguntei o seu nome.“E eu também não me apresentei. Atsuzawa Nari.” – Sunmi arqueou levemente as sobrancelhas, gravando o nome na mente. Havia algo curioso sobre aquela mulher, não que tivesse tempo para analisar psicologicamente a mãe de Soichiro ali, até porque o próprio rapaz tinha uma energia um pouco inquietante.O silêncio pairou entre as duas por um instante, apenas o som distante da festa e a brisa fria preenchendo o espaço. Sunmi não sabia exatamente o que responder. Ela estava preparada para interações cheias de intenções veladas, especialmente naquele meio, mas Nari era difícil de ler. Seu tom era casual, mas sua presença era esmagadora.— Seu filho é legal, eu acho. – Disse, quebrando o silêncio, e Nari soltou uma risada leve. “Ele é um bom garoto. Mas às vezes, se perde na empolgação.” – A ponta do cigarro brilhou quando ela tragou. “Você parece alguém que entende como as coisas funcionam. Suponho que não precise do meu aviso, mas seja cuidadosa, é muito fácil se perder no meio de todo esse glamour.”— Isso eu já percebi. Mas não se preocupe, sei muito bem onde estou pisando. – Não tinha agressividade ou nada parecido no tom de voz, só queria deixar claro que sabia onde estava se enfiando, que caminho estava seguindo. “Ótimo. Então talvez você consiga durar mais tempo do que a maioria.”Todas as inseguranças sobre aquele assunto haviam sido enterradas bem no fundo da mente de Sunmi, e não permitiria que saíssem da caixa que ela havia trancado com chaves e cadeados. E por mais que a mulher estivesse se mostrando mais agradável, já estava pensando em uma forma para sair dali e encerrar aquele tópico, mas felizmente o aniversariante foi mais rápido.“Te encontrei! Achei que tivesse ido embora sem se despedir e largado suas coisas para trás. – Soichiro apareceu com um sorriso, parecendo aliviado por tê-la encontrado enquanto Sunmi suspirou de alívio de forma discreta, apagando o cigarro no chão com a sola do sapato. — Você me deu trabalho demais, Soichiro. Precisei de um descanso. – Foi brutalmente honesta, mas isso não pareceu desencorajar o rapaz, que sorriu ainda maior, tanto para ela quanto para a mãe. “Eu prometo que você pode fugir de novo depois. Você também, omma.”A mulher repetiu o ato de apagar o cigarro no chão, balançando a cabeça em negativa. “Ah não, eu já estou pensando na minha cama. Vou encontrar seu pai e ir para casa, não tenho intenção de ver como isso aqui vai ficar durante toda a madrugada. Se cuidem, e eu te vejo depois, hum?” Um beijo na testa de Soichiro e ela já estava se retirando de cena, puxando o celular do bolso provavelmente para encontrar o marido e saírem da festa que de fato, não combinava muito com ela.Sequer notou quando voltou a andar, só se deu conta de que haviam retornado ao centro do evento quando mais uma taça de champanhe foi parar em sua mão e uma garota se colocou ao seu lado, puxando conversa. Teve de piscar algumas vezes, reorganizando os pensamentos, mas em seguida um sorriso surgiu em seus lábios, como se estivesse completamente investida no assunto.Sempre soube que havia nascido para a música. Desde os primeiros toques no equipamento do DJ da boate do pai até o momento em que conquistou seu próprio espaço nos clubes de Seoul, tudo sempre apontou para isso. Mas agora começava a entender que talento, por si só, não era o suficiente. O jogo ali era diferente. Se quisesse sobreviver – e mais do que isso, triunfar – precisaria saber exatamente onde pisar.Seus olhos percorreram o salão. Os risos, as conversas, os contatos que se formavam entre brindes e selfies tiradas. Ela estava inserida naquele meio agora. Era fácil se deixar levar, esquecer de onde veio e simplesmente se perder naquele mundo onde tudo parecia girar em torno de status e influência.Mas ela não estava ali para ser um nome passageiro em uma lista de contatos.Sunmi seria Cronos, mas nunca se deixaria aprisionar.

lychee

070425 +10:17AM
Gostava de caminhar quando começava a pensar demais. E ultimamente, pensar demais era tudo o que fazia. Desde que voltou do Japão passou a maior parte do tempo com Yohan — depois de semanas tão intensas, rodeada de pessoas, não parecia certo que agora ficasse sozinha. E Sunmi sabia bem que perto do melhor amigo o mundo silenciava um pouco. Ele sempre deixava claro que gostava da presença dela, e que estaria disponível sempre que a amiga precisasse, mas ela também sabia reconhecer quando era hora de se afastar, de não ultrapassar o espaço confortável da amizade que construíram.
Agora caminhava sozinha pelas calçadas ainda úmidas da manhã, voltando da casa de um estranho cujo nome já começava a escapar. Um encontro qualquer, iniciado entre uma bebida e outra, finalizado por volta das nove da manhã com um "se cuida" genérico e a mesma sensação de sempre: estar com alguém nem sempre era sinônimo de se sentir acompanhada. E depois de uma semana cercada por gente, o contraste da solidão batia mais fundo.Parou na frente do vidro do pet shop, observando alguns animais e o pensamento de que talvez trabalhar como voluntária em algum lugar fosse melhor do que se afundar em festas e bares toda vez que não estava ocupada com o trabalho. Os olhos no entanto pararam em uma bolinha de pelos encolhida no canto de uma gaiola, parecendo muito confortável no meio de toda serragem bege. Um hamster.Ignorou por completo a placa informando para não tocar no vidro e o fez mesmo assim, a unha batendo levemente contra ele. O animal não se moveu, claramente decidido de que nada e nem ninguém iria interromper seu descanso. Sunmi sorriu pequeno, ajeitou a postura e entrou no estabelecimento.Um hamster.

The house was awake, with shadows and monsters

TW: AGRESSÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA190525 + 04:40AMO corredor estava silencioso quando Sunmi chegou em casa. Eram quase cinco da manhã, e a cidade ainda vibrava em algum lugar abaixo, mas o loft estava escuro como se o mundo lá fora não existisse. Ela tirou os fones de ouvido que transmitiam as notas cuidadosas do piano, tentando minimizar os ecos das batidas fortes e sintéticas que tocou e ouviu durante a noite, os olhos pesados do cansaço bom que só vinha depois de um set perfeito.Ela destravou a porta com um clique suave e empurrou com o ombro, como sempre fazia. A luz do hall entrou primeiro e largou a mochila no chão, estranhando o frio que lhe subia pela espinha. Havia algo errado. Um cheiro sutil no ar. Um perfume que não era dela. Quando olhou para o sofá, parou de respirar.Ele estava ali. Sentado com a calma de um homem que sabia exatamente o que estava fazendo. Terno alinhado, pernas cruzadas, e os olhos fixos nela como se estivesse esperando havia horas. Ou anos. E como se fosse uma criança de novo, os olhos automaticamente se encheram de lágrimas só com a figura dele.— Boa noite, Sunmi-ah. — A voz dele era suave, como se estivesse reencontrando uma velha amiga e ela congelou. O corpo inteiro gritou para correr, mas os pés não obedeceram. Era como voltar a infância num segundo: a paralisia diante da presença dele, como se o tempo não tivesse passado. Como se ela nunca tivesse escapado.— O que você tá fazendo aqui?Jaesuk sorriu. Um sorriso pequeno, perfeitamente medido. — Essa é a recepção que um pai recebe da filha depois de tantos anos?Ela não respondeu. Os dedos se fecharam em punhos ao lado do corpo. Estava apenas a alguns passos da porta, se fosse rápida o suficiente poderia sair correndo mas simplesmente não conseguia se mover. — Como você entrou – Questionou com muito esforço, sem deixar a voz tremer como da primeira vez.— Ah... Nomes falsos, um sorriso bonito e algumas notas. — deu de ombros. — Você sabe quantas pessoas desaparecem por minuto nesse país, filha? Ninguém se preocupa muito com quem entra ou sai de um prédio, com quem você recebe ou não em casa. Mas você definitivamente deveria arranjar uma fechadura melhor.Ele se levantou. Cada movimento era controlado, elegante. Como sempre. Como se o mundo estivesse sob os pés dele e Sunmi apenas visitasse. A luz fraca destacava os vincos em torno dos olhos dele, mas nada nele parecia fraco. Ao contrário: ele exalava aquele tipo de presença que encolhia tudo ao redor. — Eu fiquei sabendo que você esteve em Busan, semanas atrás. — A voz deslizou como uma lâmina de prata. — Que coragem. Depois de tudo... E ainda assim teve a audácia de aparecer.Ela não disse nada. Não queria lhe dar mais palavras do que o necessário.— Fiquei sabendo também que você tocou. Mas não em um dos meus clubes. Não, claro que não. Seria... Poético demais. — O homem riu, um som seco, sem alegria. — Me diz, foi de propósito? Pra me provocar?— Eu fui lá por mim. Não por você. — A voz de Sunmi saiu tensa, baixa. Ela sentia a garganta apertar. A mesma sensação que tinha quando ele a vigiava da porta do quarto, esperando uma desculpa pra punir um erro que ela não sabia ter cometido.O homem se aproximou um pouco mais enquanto Sunmi recuou um passo, instintivamente. — Eu deixei você ir. — Ele não levantava a voz até encontrar o momento perfeito para tirar a máscara de homem composto, bem educado, príncipe encantado. — Anos atrás. Pela bondade do meu coração. Achei que você morreria de fome, voltaria humilhada. Mas não... você não só sobreviveu, você teve a ousadia de florescer. – Ela sabia muito bem que só estava livre até aquele momento porque Jaesuk provavelmente ou tinha outras preocupações maiores, ou queria brincar com a comida. Chegou até a se iludir no terceiro ano em Seoul pensando que talvez o pai tivesse simplesmente acordado para a realidade, que não tinha motivo para odiar e torturar a própria filha como ele fez por anos, que ela merecia ser feliz. — Claro, floresceu com o dinheiro que roubou de mim. – Foi essa acusação que fez a garota se mover, dar um passo à frente como se estivesse o desafiando de volta.— E o MEU dinheiro? O dinheiro que eu trabalhei para juntar, por mais de 7 anos, e você roubou? Eu só peguei o que você tomou de mim, com juros, como você fez com tantos clientes.Silêncio.Então ele avançou. Rápido, sem hesitação. Antes que ela pudesse reagir, a mão dele já estava fechada ao redor de seu pescoço, empurrando-a contra a parede com brutal precisão. O impacto fez um quadro cair do gancho e o vidro estalou no chão, mas o som parecia distante por conta dos dedos que pressionavam a garganta dela com força calculada — não para matá-la, mas para lembrá-la de que poderia.Ela agarrou o pulso dele, os olhos arregalados. Tentou soltar, mas era inútil.— Eu te criei. Dei teto. Dei comida. Dei regras. E você vai cuspir nisso como se fosse algum mártir rebelde? Você não é nada sem o que eu te dei. Nada. Esse buraco, essa sua suposta carreira de DJ, até essa sua arrogância é minha. Fiz tudo isso enquanto a puta da sua mãe não te quis. Eu fiquei por você, e é assim que me agradece? – Sunmi arfava, a visão turva. Lágrimas brotavam, mas não caíam. O medo era antigo demais, enraizado demais. Então, tão repentinamente quanto veio, ele a soltou.Ela deslizou pela parede, ofegante, a garganta queimando. Tossia, engasgando em silêncio, os olhos cheios de um ódio sufocado como o ar que lhe faltava — e de pavor. Enquanto isso, Jaesuk ajeitou a manga do paletó com um gesto calmo. Nem uma dobra fora do lugar.— Você tem duas opções, afinal sempre fui um pai muito bondoso: ou você me paga, ou eu te arrasto pelos cabelos até Busan. – Ele falava como se não fosse algo absurdo, como se estivesse a convidando para um café. — Lembra como eu disse que na próxima vez ia fazer questão que você não tentasse fugir? – Sunmi não respondeu. Continuava no chão, protegendo a garganta com uma das mãos, como se o gesto pudesse apagar os dedos dele ainda marcados ali. O peito subia e descia em soluços descompassados, o coração batendo tão alto que abafava o mundo ao redor.Foi quando que ele se aproximou devagar.O salto italiano do sapato dele parou a poucos centímetros do joelho dobrado dela, e Sunmi sentiu o terror antes mesmo da dor. Sabia o que vinha. Conhecia o silêncio que antecedia o golpe — como uma pausa na música antes do accendio. Ele olhou para baixo com desdém. Depois murmurou, cheio de veneno e amargor — Você está cada dia mais parecida com ela… — E então ele pisou.O estalo foi horrível. Um som úmido, brutal, abafado pelo grito que veio na mesma hora e cortou o loft como uma sirene. Ela se contorceu, tentando proteger o joelho esmagado contra o chão. O impacto foi preciso, cruel. Jaesuk tinha calculado exatamente onde e como pisar — e com quanta força.A dor era lancinante. Ela tremia, o corpo em choque, tentando engolir o soluço, tentando não gritar de novo. Mas os olhos já estavam cegos pelas lágrimas. — Isso vai te deixar quieta por um tempo. Alguns meses, tempo suficiente. — disse ele, com uma frieza assustadora. — Pensa nisso como... Um lembrete. Toda vez que tentar fugir de novo, vai lembrar o que acontece com gente ingrata.Ele afastou o pé com calma, limpando a sola no tapete como se tivesse pisado em algo repugnante. — Se quiser continuar fingindo que tem controle da sua própria vida, trate de não esquecer o quanto me deve porque a próxima vez que eu voltar e você não me pagar, não vou ser tão bonzinho.A porta fechou com um clique baixo. Quase educado.Sunmi não conseguia mais gritar. Ficou ali, no chão, o corpo encolhido ao redor do joelho latejante, sentindo o calor da dor misturado ao frio do medo, como se cada osso tivesse sido invadido por uma onda escura e paralisante enquanto chorava. Chorava sem parar, engasgando nas próprias lágrimas e de repente os olhos se arregalaram.Dot.Jaesuk era cruel, psicótico, sádico e sabia muito bem que se ele quisesse poderia ter feito algo horrível. Se arrastou até o próprio quarto, engolindo a dor pela pura adrenalina de algo ter acontecido com seu hamster, seu melhor amigo, o único ser vivo que lhe dava conforto constante.Cada movimento arrancava um soluço novo, o joelho inchado protestando com pontadas cortantes. Mas ela não parava. Engatinhava com o cotovelo esquerdo apoiando o corpo e a perna direita tentando compensar, arrastando-se pelo corredor como um animal ferido.— Por favor, por favor, por favor… — sussurrava, quase sem voz, enquanto avançava.Chegou até o cantinho do quarto onde o terrário ficava, decorado com pequenos brinquedos, um túnel, a roda barulhenta que ela por vezes travava antes de dormir. Sunmi esticou o braço tremendo e bateu levemente na lateral.— Dot… Sou eu… — murmurou, a voz embargada, o coração martelando no peito.Por um momento, nada. E então, como se soubesse que era seguro, o bichinho saiu, com o focinho minúsculo farejando o ar, os olhos escuros piscando contra a luz fraca do quarto, escondido dentro da casinha de madeira, como sempre fazia quando ouvia barulhos altos. Ele subiu lentamente pela rampa e correu até a portinha.Sunmi soluçou mais alto dessa vez. O alívio veio como uma onda quente, confuso, esmagador, misturado à dor e à exaustão. Ela encostou a testa no vidro, chorando de novo — mas agora de alívio. Se deitou no chão ao lado do terrário, ainda com Dot a encarando pelo vidro, os olhos fechando devagar enquanto o corpo cedia à dor no joelho que latejava, viva e real.— Você tá bem… — sussurrou, com a voz trêmula. — Ele não te tocou… Você tá bem… – Não sabia dizer se estava repetindo para si mesma, ou para o hamster. Talvez para os dois, mas era tudo o que ela tinha agora. E isso precisava ser suficiente.

evergreen

200525A luz da manhã entrava pelas persianas, fria e indiferente. Ela virou o rosto no travesseiro, tentando fugir do feixe que batia direto nos olhos, mas o movimento puxou os pontos internos da cirurgia e ela engasgou num gemido abafado notando que a anestesia já começava a sair do sistema, e a fisgada no joelho era afiada o suficiente para lembrar a todo instante porque ela estava ali. Havia um cateter intravenoso em seu braço, ligando-a a um soro com analgésicos e anti-inflamatórios. O remédio ajudava a conter a dor mais intensa, mas ainda havia uma pressão constante, como se o osso ainda estivesse partido — como se o próprio corpo lembrasse a cada minuto que algo ali fora violado e visualmente se confirmava esse fato já que o joelho estava imobilizado com uma tala que ia da coxa até a canela, e por cima, uma faixa compressora.Uma enfermeira entrou pouco depois das sete, suave e prática, perguntando como ela estava, conferindo os sinais vitais e anotando tudo numa prancheta sem muita conversa. Sunmi respondeu com acenos de cabeça, a garganta seca, os olhos fixos em um ponto na parede.Na hora que precisou ir ao banheiro, duas enfermeiras a ajudaram a sentar e depois transferi-la para uma cadeira de rodas. Mesmo o menor movimento parecia exigir um esforço absurdo. Sentia-se fraca, exposta, como se seu corpo não fosse mais dela. Cada toque doía — não apenas na carne, mas no orgulho. No pouco de controle que ela ainda fingia ter sobre a própria vida.Depois, um ortopedista voltou para avaliá-la. Repetindo a mesma coisa que disse ontem de noite, que a cirurgia tinha sido bem-sucedida, que haviam fixado os fragmentos ósseos e que a recuperação seria boa, desde que ela seguisse o plano direitinho: repouso absoluto nos primeiros dias, fisioterapia logo em seguida, e um mínimo de quatro meses até voltar à plena mobilidade. Ele falava como se estivesse descrevendo um processo técnico, afinal para ele de fato era, mas aquele tempo significava muito mais para ela. Quatro meses sem o palco. Quatro meses sem sustento. Quatro meses presa ao próprio corpo.Por isso que quando Hyejoo veio a visitar, ela já sabia o que dizer.Disse a mesma mentira que contou para Jaewon e para todo mundo que a questionou no hospital: caiu de joelhos tentando alcançar algo na parte alta do armário. O olhar da mulher mais velha, que além de agente tinha se tornado alguém por quem nutria demasiado afeto, era o mais preocupado possível quando entrou no quarto e a viu na cama.— Você devia ter me avisado antes. Só vi a mensagem quando acordei.Sunmi forçou um sorriso. Pequeno. Curto. Desgastado.— Eu avisei assim que deu. Acho melhor resolver logo o que tem que ser resolvido. A agenda, os compromissos…— Ei. — Hyejoo largou a bolsa na poltrona e se aproximou mais da cama. — Não começa com isso. A gente vai resolver, claro. Mas você… — olhou para o curativo e a perna imobilizada — … Você é mais importante. A gente pode adiar, cancelar, qualquer coisa. Ninguém vai te cobrar agora.— Mas vão cobrar depois. — A voz de Sunmi saiu baixa, sem raiva, só crua. — E você sabe que tudo que a gente conseguiu até agora foi suado. Se começar a ceder agora, tem gente na fila esperando pra tomar meu lugar. – Tinha certo desespero na voz dessa vez, por mais que tentasse conter o pavor de perder tudo que tinha conquistado até então, e Hyejoo a olhou por alguns segundos. Ela sabia que a determinação de Sunmi vinha do mesmo lugar do trauma e que aquela teimosia não era só força.— Você acha mesmo que eu vou deixar isso acontecer? Sunmi, pelo amor de Deus…— Eu só... — Ela engoliu em seco. A garganta ainda doía levemente. — Eu preciso manter o que conquistei. Se eu conseguir me sentar... eu consigo tocar. Talvez precise adaptar algumas coisas, mas julho ainda tá longe. Dá tempo. – Dessa vez a mulher deu um passo para trás olhando indignada e soltando um “julho?!” com um tom de indignação que fez a garota fechar os olhos por uns segundos porque não queria se estressar se explicando. — Não tenho como me dar ao luxo de perder os festivais e festas de verão, eu preciso desse dinheiro, você precisa deste dinheiro. Eu já falei: nem que eu toque sentada, mas não vamos cancelar a agenda de julho… Consigo entender cancelar junho, mas julho não, vou estar boa o suficiente até lá.— Você vai precisar de fisioterapia. Talvez reabilitação. E você nem sabe ainda como vai estar-— Então eu vou fazer tudo o que for preciso! – Sunmi cortou, direta, os olhos se enchendo de lágrimas que já não sabia se era de cansaço ou ódio, ou os dois. Talvez o ódio falasse mais alto porque estava farta de se sentir impotente, de imaginar a carreira, que finalmente estava prosperando, indo para o ralo por conta de um capricho nojento de Jaesuk. — Eu preciso tentar, eonni, é a única coisa que posso fazer.O silêncio entre elas durou mais do que o esperado. Hyejoo encarou o rosto de Sunmi e viu junto das lágrimas algo que reconhecia de longe: o medo aterrorizante de ser deixada para trás.— Tá bom. — a mulher disse por fim — Julho fica. Por enquanto. Mas você me promete uma coisa? Que vai colocar sua saúde na frente. De verdade.Sunmi assentiu, mas o gesto era mais uma tentativa de encerrar o assunto do que uma promessa real.

what you gon' do when there's blood in the water?

040625.O vidro da janela do carro estava embaçado pela sua própria respiração ao encostar a cabeça contra ele, mas mesmo assim Sunmi mantinha os olhos fixos do lado de fora, como se cada prédio, cada rua conhecida fosse uma paisagem nova. Sentia a cidade diferente. Ou talvez fosse ela quem estivesse. O mundo parecia ter seguido em frente enquanto ela ficou trancada em casa, onde o tempo e a dor se misturaram até virarem uma massa indistinta.— Tem certeza de que tá tudo bem? — perguntou Hyejoo do banco do motorista, olhando de relance.Sunmi soltou um suspiro leve. Não queria admitir que o simples fato de estar fora de casa, com o Sol batendo no vidro e o cinto pressionando o ombro, já era o suficiente para deixá-la desconfortável. Tinha se acostumado demais com o isolamento. Com ficar escondida. Com trocar as fechaduras do seu apartamento, além de colocar uma eletrica e acreditar que se ficasse escondida ali até ter de sair para cumprir a agenda, seu pai não poderia tocá-la novamente. Até a determinação em melhorar o suficiente em 1 mês parecia ter evaporado para dar lugar ao medo.— Não sei se "tudo bem" é a palavra, mas... — respondeu, os olhos ainda no vidro. — Eu entrei no carro, não entrei?Hyejoo sorriu com ternura. — É mais que isso. É coragem.Sunmi não respondeu, a frase pareceu clichê demais e sabia que a mulher estava apenas tentando a incentivar. Mas manteve a expressão firme, como se estivesse segurando alguma coisa por dentro — e estava. O medo. A vergonha. A sensação de que todos sabiam, de alguma forma, o que tinha realmente acontecido.O cheiro da clínica era outro; não havia traços do incenso de lavanda que Mirae, sua fisioterapeuta, às vezes acendia discretamente no loft nas sessões que tiveram lá. Em vez disso, o ar era frio, esterilizado, metálico — o tipo de ar que fazia lembrar hospitais. O tipo de ar que dizia: aqui você é um número entre muitos, uma lesão entre várias.Sunmi parou na recepção, os olhos varrendo o espaço claro e amplo, paredes de um branco clínico que doíam mais do que acalmavam, e Hyejoo parou junto de si sabendo que era melhor aguardar seu tempo. Não gostou nem um pouco em olhar mais à frente e ver que o vidro de algumas das salas era parcialmente transparente e qualquer um poderia ver o que acontecia do lado de dentro, como ela própria estava vendo algumas pessoas já se movimentando em esteiras lentas, faixas presas às pernas, bolas de fisioterapia sendo apertadas com esforço visível. Não havia música de fundo. Apenas o som abafado dos aparelhos, passos e o teclado da recepção.Ela ajeitou a muleta debaixo do braço, sentindo o aperto no estômago crescer. Não era como a dor do joelho — essa ela já conhecia, aprendia a negociar com ela todos os dias. Era outra coisa. Um desconforto mais antigo. O medo de ser observada. O medo de parecer fraca.— Sunmi-ya! – A voz conhecida cortou o silêncio como uma pequena fagulha de calor. Mirae vinha do fim do corredor com seu sorriso pronto, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto e alguns fios da franja escapando pelos lados, e claro, o jaleco branco com o crachá balançando no peito. — Já tava achando que você ia fugir.— Considerei seriamente — respondeu, com um meio sorriso cansado. — Mas não tive muito como, Hyejoo eonni sabe assumir uma personalidade de coach de youtube bem irritante quando quer. – Mirae deu um risinho breve, mas o olhar dela se demorou no modo como Sunmi apoiava o peso na perna boa, e como os dedos da mão estavam crispados na muleta.— Vamos direto pra sala seis. Ela fica mais no fundo, acho que você prefere um pouco mais de privacidade. – Achava curioso como a fisioterapeuta aprendeu sobre ela em um período de tempo consideravelmente curto, talvez fosse a vulnerabilidade que facilitava essa leitura.Hyejoo se despediu, dizendo que tinha que participar de uma reunião e usaria a cafeteria do fim da rua para tal mas voltaria em 40 minutos, no fim da sessão. Elas seguiram lado a lado, o som da muleta ecoando a cada passo. Sunmi tentou não olhar muito para os outros pacientes. Uma mulher idosa fazia exercícios de braço com elásticos presos à parede. Um garoto com uma prótese na perna ria com o fisioterapeuta ao tentar se equilibrar numa bola instável. Todos ali tinham suas dores — e todos pareciam estar lidando com elas melhor do que Sunmi se sentia capaz.A sala seis era espaçosa, com tatames azul-escuros no chão e um grande espelho na parede lateral. Um aparelho de eletroestimulação estava em um canto, e uma bicicleta ergométrica antiga repousava como uma ameaça futura.— Tudo igual ao que você fazia em casa, só que com mais espaço. — disse Mirae, ajudando ela a sentar no colchonete para tirar os tênis. — Vamos começar leve, com flexão passiva. Você só relaxa, eu guio o movimento.Sunmi assentiu. Já tinha feito aquilo com Mirae em casa, mas ali... era diferente. Ali, havia espelhos. Havia possibilidade de olhares. E mesmo assim, ela deixou. Sentiu a mão firme de Mirae sob a panturrilha, guiando com precisão e gentileza. O joelho começou a dobrar. E a dor veio com ele; era fina, afiada, e irradiava do joelho como eletricidade.— Merda…— Respira, Sunmi. Só respira. Você conhece essa dor. Já sobreviveu a ela.Ela obedeceu aos poucos. O músculo tremeu. O joelho resistiu. Mas o corpo, mesmo com tudo que tinha passado, ainda lembrava o caminho de volta.— Não sei se quero chorar, bater em alguma coisa ou rir — murmurou entre os dentes.— Escolhe uma. Mas deixa sair.Sunmi olhou para o espelho. Viu o esforço estampado no próprio rosto, viu a perna tremendo, viu o limite entre o que aguentava e o que fingia que aguentava. E, pela primeira vez, permitiu-se não esconder isso. As lágrimas surgiram discretas, caindo silenciosas. Porque era muito mais do que a porra da dor. Era ódio por ter que estar passando por algo assim, pelo atraso que aquilo causaria na sua carreira, na sua vida, pelo psicopata que ela tinha como pai ter calculado perfeitamente o impacto do que fazer para a atingir como o monstro que ele sempre foi.A sessão seguiu com alongamentos, exercícios leves, pequenas tentativas de ativar os músculos ao redor do joelho. Nada glorioso. Nada bonito. E Sunmi passou os 40 minutos imaginando todas as formas em que poderia explodir a cabeça de Jaesuk, fosse com uma bala, uma faca, um taco de baseball ou pisando, e em dado momento a dor sumiu, porque ela preferiu focar na sensação fantasma do sangue morno dele espirrando contra o próprio rosto.

SUMÁRIO

I.
II.
Ø.
III.
IV
V
VI

deepest lonely

260625.O afastamento começou sem estardalhaço. Nenhum rompante. Nenhum anúncio. Apenas a retirada sutil, quase elegante, como quem sai de uma sala sem bater a porta. Ninguém notou de imediato. Nem ela.No primeiro dia, foi uma mensagem não respondida. No segundo, o telefone no modo silencioso, ainda que vibrasse. No terceiro, ela deixou de abrir as cortinas. Pequenos gestos. Pequenos desaparecimentos. E cada um mais fácil que o anterior; era tão boa mentirosa que não precisou nem se esforçar para dizer para a Hyejoo que Yohan a levaria na fisioterapia, e disse para o mais velho que seria a mulher quem a levaria.Também no primeiro dia, ela chorou sem saber o motivo. No segundo, enquanto tentava tirar a imobilizadora sozinha para poder tomar banho. No terceiro, chorou tanto que vomitou tudo que não tinha comido.Não queria ver ninguém. Não queria falar. Não queria comer. Nem levantar da posição em que estava onde o tempo passava torto. A luz da janela mudava de lugar às vezes, e só assim ela percebia que o mundo lá fora ainda seguia. Havia, dentro de si, uma estranha sensação de estar se decompondo viva. Não de forma grotesca, mas discreta, uma hera crescendo lentamente pelas paredes internas de seu ser, sufocando tudo de dentro para fora.Até Dot estava silencioso, como se sentisse o clima do lugar, como se a própria tristeza de Sunmi tivesse peso suficiente para dobrar até a vontade de um bicho tão pequeno.O corpo também começou a reagir. A pele mais pálida, os olhos fundidos em olheiras sombrias. O joelho pulsava de forma lenta, protestando por também estar esquecido.Um mês atrás, ela jurava que estava bem. Leve. Positiva. Tinha dias em que dançava sozinha no apartamento, e sentia que estar sozinha começava a ser confortável. Era a primeira vez em que acreditava que talvez o pior tivesse passado, que poderia conviver consigo mesma sem nenhum problema. Mas bastou um estalo, literalmente porque ainda se lembrava do barulho que o joelho fez quando seu pai o quebrou, e tudo foi por água abaixo e ela que antes odiava sentir pena de si mesma, agora se permitia sentir tudo: inútil, patética, injustiçada.Odiava tudo em si, inclusive o passado. A forma como tentava ser forte o tempo inteiro, como nunca conseguia confiar em ninguém e quando afastava as pessoas sem querer e depois sentia falta delas. Nem o próprio corpo parecia querer colaborar — agora quebrado e exigindo uma paciência que ela não tinha, uma vontade que não existia mais. Tudo parecia ter desmoronado de uma vez só.E toda vez que pensava no pai — no dinheiro que ele queria de volta e na ameaça monstruosa que recebeu na última vez que o viu — também pensava na mãe, e a tristeza se misturava com o ódio de ter sido largada para trás, junto com uma esperança nojenta de que, antes de fugir, a mulher talvez tenha sofrido na mão dele muito mais do que ela. Torcia para ela ter morrido e, para que mais dia ou menos dia, alguém enfiasse uma bala no meio da testa de Jaesuk.E por mais cruel que fosse, havia algo de perversamente libertador em se permitir cair, em desejar que algo horrível acontecesse com seus genitores só para balancear a tragédia que eles fizeram em sua vida. Em não esconder. Em não fingir.Era só ela. Sozinha. Derretendo.